Marcel Campos: uma história de superação dentro e fora das quadras


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Antes de formar atletas, o esporte é um fator preponderante para a formação do cidadão. Um bom exemplo disso é a história de Marcel Campos, de 30 anos, nascido em São João da Boa Vista (SP), que se destacou como jogador de basquete, chegando a defender seleções de base, mas que após um período difícil, recheado de lesões, acabou optando pelos estudos e pela carreira na área financeira. Hoje Marcel é um executivo de sucesso nos EUA. Confira abaixo um pouco dessa história de superação:

Comecei a jogar basquete aos oito anos na Sociedade Esportiva SãoJoanense, um dos clubes da minha cidade. Aos 14 anos dei um dos primeiros passos para buscar meu sonho de me tornar jogador. Aceitei uma oferta do técnico Dirley Bernal para ir jogar pela escola Objetivo, em Sorocaba, que no mesmo ano recrutou o pivô Rafael Mineiro, atualmente no Flamengo. Juntos conquistamos títulos da Associação Regional de Basquetebol (ARB), ficamos em terceiro no Estado de SP, e foi quando recebi minha primeira girafinha sendo eleito como melhor jogador do interior. Com essas atuações, recebi uma proposta para jogar no COC/Ribeirão Preto, onde conquistei campeonatos paulistas de base, fui pentacampeão paulista com o adulto e campeão dos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs) nacional representando o estado de São Paulo com o time do COC, entre outros títulos.

Foi na passagem pelo COC que alavanquei minha carreira tendo minha primeira convocação para as seleções paulista e brasileira de base. Com a Seleção Brasileira ficamos em terceiro lugar no Sul-Americano e na Copa América. Até então tinham se passado 12 anos sem a participação da categoria no Mundial e, sob o comando do técnico José Neto, ex-Flamengo, conseguimos a classificação. Na mesma época conquistei o Campeonato Brasileiro organizado pela CBB representando a Seleção Paulista. No meu último ano de juvenil, aceitei a proposta para ir jogar na equipe do Conti/Assis onde o técnico Marco Antônio Aga me ofereceu uma ótima oportunidade de ser o segundo armador do adulto, atrás apenas do grande armador Nezinho.

Uma fratura por estresse no quinto metatarso do meu pé esquerdo durante a preparação para o Mundial sub-18 foi umas das razões pelas quais comecei a analisar as minhas opções com relação ao basquete universitário nos Estados Unidos. Depois de uma boa temporada no meu primeiro ano de adulto e com a ajuda do técnico Walter Roese (atualmente Diretor-Técnico e coach na NBA Academy da Cidade do México), decidi por continuar minha carreira em Midland College, no Interior do Texas, com a visão de estudar e jogar, o que geralmente é uma missão difícil de se conseguir jogando no Brasil.

Sobre a minha carreira nos Estados Unidos, em uma análise estatística, muitos podem considerar como um fracasso por não conhecerem a história, tudo o que passei. Mas na minha opinião é uma história de sucesso, não só minha mais de muitos outros atletas brasileiros que foram esquecidos, que na época, pela estrutura do basquete nacional, foram "forçados" a mudar os planos e focaram em usar seus diplomas para começarem novas carreiras aqui nos Estados Unidos. Hoje são grandes pessoas e profissionais de sucesso por aqui, ex-atletas de seleções de base como Rodrigo de Souza, Thomas Melazo, Thiago Jabur, André Almeida e Adonis de Souza.


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No meu primeiro ano no Midland College acabei fraturando de novo meu pé no primeiro jogo do campeonato. Depois de outra cirurgia e seis meses de recuperação, voltei aos treinos. Na terceira semana comecei a sentir dores novamente, e em outra visita ao médico recebi a péssima notícia de que teria que fazer outra operação. Com minha terceira cirurgia agendada, oito meses de recuperação e uma mudança de coach na universidade, achei que nunca mais teria a oportunidade de praticar o esporte que amo, pois sabia que se voltasse para o Brasil não conseguiria um contrato estando lesionado e também por não saber se teria a oportunidade da bolsa de estudos com o novo coach.

Quando fui informado pelo novo coach de que não teria a bolsa de estudos, mas teria a chance de ser parte do time se pagasse minha parte, decidi lutar pelo meu sonho. Trabalhei aquele verão inteiro como jardineiro, pedreiro, pintor e professor de matemática na escola para juntar dinheiro para pagar meus estudos e ter uma nova chance.

Nesse período de muita dificuldade descobri muitas coisas que nunca teria feito se fosse apenas jogador. Acabei descobrindo que era um ótimo aluno e a vida não era só basquete. Fiz peças de teatro na cidade, fui Vice-Presidente do clube de imigrantes da escola e acabei trabalhando apenas como tutor de matemática. Quando melhorei e voltei aos treinos, não tive muito tempo de quadra, mas, mesmo jogando cinco minutos por jogo, acabei recebendo o troféu de "rustle player of the year" ao final da temporada. Com o Midland College acabei sendo duas vezes Vice-Campeão Nacional. Não tendo muita visibilidade, acabei sem muitas opções de onde jogar, mas tive uma da Our Lady of The Lake University, em San Antonio, no Texas. E foi nesta universidade que passei meus últimos dois anos jogando ao lado dos meus compatriotas brasileiros Ricardo Zanini e Adonis Souza. Como capitão do time, acabei sendo campeão da nossa conferência e levamos a escola à participação no campeonato nacional, terminando na sweet 16, fato inédito para a história dos esportes da escola. Também recebi o troféu "rustle player of the year" nos dois anos em que joguei pela escola.

Recuperado 100%, quando me formei encarei um grande dilema em minha vida. Não tendo propostas para jogar na Europa ou na NBA, tinha que escolher entre voltar para o Brasil e arriscar a carreira curta dos contratos de seis, oito meses, ou aceitar uma excelente proposta da minha empresa e começar minha carreira de conselheiro financeiro.

Coloquei na balança todos os prós e contras: a dificuldade de ter uma oferta de trabalho nos Estados Unidos, a insegurança de jogar no Brasil naquela época e o fato de não saber quantos anos meu pé aguentaria. Decidi então investir na minha carreira e usar a educação que consegui para começar uma nova jornada com a Campbell Securities, LLC. Menos de dois anos depois de começar minha carreira como client associate, fui promovido para Vice-Presidente. Hoje sou responsável pela construção e gerenciamento de nossos portfólios, pesquisas de ativos e passivos, execução de estratégias específicas para clientes, além do planejamento de desenvolvimento e crescimento da empresa.

A transição do mundo de jogador para o mercado de trabalho foi uma grande transformação em minha visão de vida. Em busca de novos objetivos, acabei aprendendo muito sobre eu mesmo e sobre o que sempre me motivou para lutar duro pelo o que eu queria. Aprendi que o que sempre me fez feliz não foram as conquistas em si, mas sim quando volto para as pessoas que gosto e amo, as pessoas que sempre acreditaram em mim, e atendo as expectativas que eles têm por mim fazendo com que fiquem orgulhosos. Lógico que quando levantava uma taça como capitão da seleção, representando meu país, eram situações inesquecíveis, mas quando pegava o telefone e ligava para os meus pais e amigos contando as novidades, aí sim era o que, sinceramente, me fazia feliz, sendo a minha motivação principal. Usei este mesmo princípio nas minhas carreiras escolar e profissional.

Cinco anos depois de jogar meu último jogo tenho a paz na consciência de que minha decisão de começar uma nova carreira foi uma das mais importantes da minha vida. Tenho uma linda família, acabei de terminar meu mestrado e amo o meu trabalho, pois agora em vez de medalhas tenho a oportunidade de ajudar as pessoas que eu gosto e amo, como meus clientes, a se sentirem mais confortáveis com suas fortunas e com a complexidade do mundo dos investimentos, dando a eles um produto / serviço que eles possam ter orgulho de receber.

Sou grato por minha profissão me proporcionar tempo para ainda estar conectado com o esporte que amo. Faço um voluntariado em uma high school aqui em Midland como head coach da categoria Junior Varsity. Uso está oportunidade para retribuir e dividir com as crianças tudo o que o basquete me ensinou em minha carreira dentro e fora das quadras.


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